ÓCULOS DE SOL

A luz visível representa uma pequena porção (cerca de 1%) do espectro electromagnético (vai desde as radiações ionizantes (pequeno comprimento de onda) às ondas de rádio (grande comprimento de onda)).
A principal fonte de luz visível (comprimento de onda entre os 400 e os 700 nm) é o sol.
A radiação que é emitida pelo sol representa um espectro entre o ultravioleta e o infravermelho com uma pequena fracção de radiação ionizante (na forma de raios x e raios γ). Esta radiação ionizante pode ser letal mas, o sol ejecta enormes quantidades de matéria (vento solar) que produzem uma vasta “concha” à volta dele, evitando assim que as radiações ionizantes cheguem à terra.
A atmosfera terrestre absorve a maior parte da radiação abaixo dos 400 nm (ultravioleta) e acima dos 700 nm (infravermelho).
O potencial nocivo das radiações ultravioleta e infravermelho libertadas pela superfície do sol são absorvidas pelo ozono, dióxido de carbono e vapor de água da atmosfera terrestre.
De toda a energia luminosa que chega à terra, menos de 10% pode ser considerada radiação ultravioleta (UV-A (400-320 nm); UV-B (320-280 nm); UV-C (280-100 nm)).
As queimaduras solares são causadas pela exposição prolongada a altas doses de radiação ultravioleta.

Pode haver lesão estrutural e funcional do exterior e interior do olho pelos efeitos térmicos e/ou fotoquímicos da absorção da luz.

Grupos mais vulneráveis à lesão ocular pelos raios ultravioleta (UV)
Idosos
Com a idade há diminuição da concentração de moléculas que protegem dos raios UV. Catarata e Degenerescência macular relacionada com a idade (DMI) podem estar relacionadas com a combinação da exposição comulativa de luz e coincidente diminuição da bioquímica protectora.
Pacientes com menos pigmentação
Estudos mostram que pacientes cujas íris são azuis (menos pigmentadas) têm mais incidência de DMI em comparação com pacientes com íris castanhas.
Áfacos
A esclerose nuclear do cristalino é um filtro contra a radiação ultravioleta e luz azul, protegendo a retina da DMI. Por esta razão a maior parte das lentes intraoculares implantadas durante a cirurgia de catarata têm filtro ultravioleta e para a luz azul.
Uso de fármacos fotosensibilizantes

Estes fármacos (ex: tetraciclinas, psoralenos, etc) deixam os tecidos mais vulneráveis à lesão luminosa, depositando-se no cristalino e retina.

Exemplos clínicos de lesão ocular pela luz
Pálpebras
A pele das pálpebras pode sofrer queimadura solar essencialmente pelos raios UV-B. As núvens não filtram a radiação UV, portanto não previnem as queimaduras solares. Os raios UV são reflectidos pela areia, água, etc. O guarda-sol não fornece protecção total contra estes raios. O espectro das lesões da pele causadas pelos raios UV podem variar entre as lesões relativamente benignas (queratose epidérmica, pele seca, hiperplasia sebácea, manchas pela idade, rugas, etc) até lesões malignas (carcinoma de células basais, carcinoma de células escamosas, melanoma maligno, etc).
Córnea
Queratite superficial provocada pelos solários, lâmpadas germicidas, soldar, etc. “Cegueira” pela neve (a neve reflete cerca de 85% da radiação UV incidente) é o resultado da exposição prolongada aos raios UV que causam uma queratite superficial punctata que tipicamente aparece 8 a 12 horas após a exposição. A exposição crónica à radiação ultravioleta pode produzir uma degeneração esferoidal da córnea (ex: surge em cerca de 14% dos esquimós) e estar associada à presença de pterígeo.
Cristalino
Associado ao aparecimento de catarata e ao inicio mais precoce da presbiopia (em média surge 5 anos antes na população dos paises com mais sol (trópicos), talvez pela maior exposição à radiação infravermelha).
Retina

Parece haver associação com o aparecimento da DMI pela toxicidade da luz azul e dos raios UV na mácula.

Protecção contra a radiação luminosa – Óculos de Sol
Num dia com luz solar muito intensa, os níveis elevados de luz tendem a saturar a retina e, por isso a diminuir os níveis de sensibilidade ao contraste. A função dos óculos de sol é devolver à retina o nível máximo de sensibilidade ao contraste, eliminando o excesso de “ruído”. A maioria dos óculos de sol absorvem 70 a 80% da luz incidente. Experiências clinicas mostraram que um dia inteiro de exposição solar na praia (sem óculos de sol) pode diminuir a adaptação ao escuro durante dois dias.
Os óculos de sol reduzem o excesso de brilho (glare) da luz refletida pelas superfícies metálicas, lagos e rios, vidros das janelas, piso das estradas, etc.
Quase todos os óculos escuros absorvem a maioria dos raios UV, o que também é verdade para os óculos com lentes “normais” (lentes claras).

É possível que alguns óculos de sol irónicamente causem lesões oculares. Estes óculos de sol não absorvem grandes quantidades de radiação UV e, de facto criam condições para que o olho esteja mais exposto às radiações (a pupila fica dilatada permitindo a entrada de maior quantidade de radiação) do que sem o seu uso.

Cor das lentes dos óculos de sol
Lentes verdes ou cinzentas são consideradas neutras porque não distorcem a cor dos objectos.
Lentes castanhas causam alguma distorção das cores, no entanto aumentam o contraste.

Lentes amarelas ou alaranjadas causam distorção das cores mas aumentam o contraste e a profundidade de campo (usadas pelos pilotos, pescadores, caçadores, etc.).

Material das lentes
Vidro
Melhor óptica e resistência aos arranhões. Mais pesadas e menor resistência ao impacto.
Acrílico, Policarbonato, Poliuretano, CR-39

Mais susceptiveis aos arranhões. Mais leves e maior resistência ao choque (especialmente as lentes de policarbonato).

_ _

2 comentários

  1. Boa Tarde Dr. Sá,

    Tenho estigmatismo e miopia e uso uns óculos de sol com lentes pretas.
    Será aconselhável as lentes pretas?

    Cump.

    Ana

  2. Os meus cumprimentos Dª. Ana.
    Nos óculos de sol o principal cuidado a ter é certificar-se que as lentes escuras têm protecção para os raios ultra-violeta (UV). Pelo facto de diminuirem a quantidade de luz que entra nos olhos, o diâmetro pupilar aumenta e, se não houver protecção para os raios UV, haverá maior exposição de todas as estruturas oculares a estes raios aumentando o risco de surgirem lesões. Pode usar a côr de lentes que mais gostar e que mais conforto lhe der. Por serem escuras, diminuiem a intensidade luminosa e aumentam o contraste. A escolha da côr das lentes nos óculos de sol não está relacionada com o erro refractivo que apresenta (miopia e astigmatismo).

    Álvaro Sá

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *